quarta-feira, 16 de março de 2011

Tomate industrial, inovações no plantio

No intuito de aperfeiçoar a produtividade e minimizar os custos de produção, produtores rurais aderem às inovações no plantio

Em 2010, o Brasil voltou a assumir a posição de quinto maior produtor de tomate industrial do mundo, estando atrás apenas dos Estados Unidos, China, Itália e Espanha. No ano passado, a produção nacional de tomate industrial foi de 1.150.000 toneladas, sendo 75% disso alavancado no Estado de Goiás, segundo estimativa das indústrias processadoras. A previsão para a safra de 2010 é de 1.600.000 toneladas, safra recorde, que representa um aumento de aproximadamente 45% em relação ao ano de 2009.

Esse alto desempenho só foi possível devido às condições propícias do Cerrado, como disponibilidade de mão-de-obra, clima favorável, menor incidência de doenças, incentivos fiscais por parte do governo do Estado, entre outras vantagens que favorecem o investimento de indústrias produtoras. “Ano passado, devido ao clima, houve uma diminuição de safra e associado ao baixo estoque na mão dos industriais, teve necessidade de se comprar mais sementes. Embora não se soubesse como seria o clima para esse ano, conseguimos uma combinação muito interessante para o cenário atual”, informa o presidente da ABH (Associação Brasileira de Horticultura), Paulo Cesar Tavares.

Goiás é hoje o campeão brasileiro de produção. Desde o ano de 2000, o setor tem evoluído significativamente, o que impulsiona investimentos em debates, congressos e tecnologias, a fim de gerar avanços para a economia do Estado, do país e do mundo. O cerrado se destaca principalmente em termos de tecnologia. Hoje, toda sua área plantada utiliza sementes híbridas de última geração. Os desafios agora são aperfeiçoar a produtividade, permitindo que ela seja 100% aproveitada, e minimizar custos.

O cultivo é uma técnica muito simples, sem segredos. Para o produtor rural Darcy José Coloca, proprietário da Fazenda Madeira, em Gameleiras de Goiás (GO), as dificuldades ficam por conta da manutenção geral, da aplicação de fungicidas entre outros cuidados com a lavoura que geram custos mais elevados. “Os gastos hoje ficam em torno de R$9.000 por hectare contra R$ 1.200 com a plantação de soja e R$ 1.500 com o milho. Enquanto são gastos 500 Kg de adubo com a soja, gastamos 1.500 Kg com o tomate. Além disso, é preciso mais fungicidas , inseticidas e insumos”, revela.

Técnicas e inovações para o plantio

Em relação às inovações para com o plantio, uma dica do produtor rural é o SPD (Sistema de Plantio Direto), que consiste em semear no solo sem prévia aração ou gradagem leve niveladora. Essa técnica se adapta ao pequeno e grande agricultor e seus benefícios se estendem não apenas ao solo, mas também ao rendimento das culturas e a competitividade dos sistemas agropecuários.

Outras práticas que merecem atenção especial são a calagem e a adubação. Nos últimos 15 anos, com a entrada da soja e a massificação da agricultura, principalmente no Cerrado, houve uma grande busca em relação à alta produtividade. Hoje, a calagem e o adubo representam entre 20% e 30% do valor da produção. “Isso acontece porque o produtor, na busca pela eficiência, tem jogado uma quantidade de calcário, adubo e principalmente fertilizante acima do necessário para o cultivo. Esse excesso muitas vezes não repercute em produtividade e sim em impactos ambientais”, informa o pesquisador da Emater Lino Borges.

A melhor maneira de alcançar resultados com eficiência e diminuir custos é equacionando a produção. Isso pode ser feito utilizando técnicas adequadas. Segundo Lino, as últimas publicações do livro Quinta Aproximação são bastante instrutivas quanto ao uso correto de adubos e calagem. Nele, o profissional de engenharia agrônoma encontra dicas precisas sobre como proceder nos diversos tipos de solo e clima. “O fundamental é que o produtor tenha profissionais qualificados que saibam utilizar essas técnicas e orientá-lo para melhor atuação no mercado”, esclarece o pesquisador.

Lino alerta ainda sobre a importância de se buscar outras possibilidades como o controle de doenças e o uso de variedades melhoradas geneticamente. “São vários aspectos que o produtor tem que avaliar na consecução o máximo de eficiência no seu processo, isso é possível através da agricultura de precisão”, informa.

A agricultura de precisão permite tratar cada parte da propriedade conforme as suas necessidades. Ela pode ser utilizada para uniformizar a distribuição de sementes, fertilizantes e produtos fitossanitários nas lavouras, sempre objetivando a produtividade do cultivo e, ao mesmo tempo, a redução de custos.

Esse método adota o conceito da necessidade média para a aplicação dos insumos, o que faz com que a mesma quantidade de adubo, por exemplo, seja distribuído em toda área plantada, atendendo necessidades gerais. “Muitas vezes, o produtor foca na adubação e esquece a questão de fitopatologia e doenças da planta, às vezes foca muito na fitopatologia e a parte nutricional da planta fica de lado. Se você não atacar todas as frentes, não consegue uma máxima eficiência”, informa Lino.

Em termos de irrigação, a novidade é um método que ao exige cálculos complicados, promete economia e um melhor controle diário. Estamos falando do Irriga-se, um sensor que indica quando a área deve ser regada. Composto por uma cápsula porosa que deve ser enterrado na área de produção, ele pode ser aplicado a qualquer cultura e sua leitura diária é feita através do fluxo de água.

Esse sistema foi construído utilizando um tubo plástico, uma vela de filtro de água e uma ponteira para fazer a leitura, que pode ser uma seringa descartável, por exemplo. A irrigação deve ser feita apenas se a água que estiver dentro da tubulação que vai até o sensor, se movimentar. “O produtor, muitas vezes, irriga no ‘achometro’, o que ocasiona excesso ou falta de água no sistema radicular. Todas as duas situações causam doença em plantas. Com o Irriga-se ele vai saber o momento exato de agir”, informa o técnico da Embrapa Hortaliças, Sergio Elmar Bender.

Outra inovação que merece destaque é a ação integrada dos equipamentos Digilab e Yield Max, que vem apresentando excelentes resultados no combate de doenças, como a requeima e a pinta preta. O primeiro é um aparelho que por meio de um microscópio captura imagens e identifica de forma imediata doenças em diferentes culturas, evitando que o produtor fique aguardando pelo resultado do laboratório. O segundo aparelho conta com uma ação meteorológica, que além de identificar reações climáticas, indica o período em que a folha permaneceu molhada, evitando assim, condições para o surgimento de determinadas doenças. Eles se complementam porque um previne o aparecimento da doença e o outro detecta a doença. Isso evita que o produtor use um fungicida que não seja apropriado para aquela doença que está sendo tratada.

A expansão de regiões produtoras de tomate é sem dúvida nenhuma a responsável pelo crescimento desse setor. Para que essa evolução não estacione, é necessário investimentos do governo e acima de tudo atenção do produtor rural para as inovações constantes da cadeia produtiva. É bem verdade que o empenho por parte dos agricultores e mesmo do governo proporcionou uma evolução nos últimos anos. Mas sente-se ainda a carência de um maior envolvimento entre produtores rurais para que atrelados consigam lutar por melhorias no setor e fazer com que o Brasil alcance melhores posições, deixando de importar e passando a posição de exportador de tomate industrial.

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Autor Lilian Schineider | Contato lischineider@hotmail.com - almeida.lilian@hotmail.com | @LiSchineider