Os nematóides voltam a atacar as
lavouras de todo o cerrado brasileiro. As possíveis perdas de produtividade provocadas
impulsionaram o novo estudo da Fundação Chapadão
Por Lilian Almeida
A Fundação Chapadão do Sul, em levantamento quali-quantitativo realizado no
período de outubro de 2009 a maio desse ano, aponta que a incidência de
nematóides do tipo Pratilenchus nas
regiões de Chapadão do Sul (MS) tem aumentado nos últimos três anos, como
apontou 92% das 750 amostras de plantas estudadas. Dessas, 59% estavam infestadas com Pratylenchus brachyurus, 24% havia Pratylechus brachyurus e Heterodera
glycines, 4% havia apenas Heterodera
glycines, outros 4% havia
Pratylenchus brachyurus e Meloidogyne
sp., 1% das amostras havia
Pratylechus brachyurus, Heterodera
glycines e Meloidogyne sp. e em
8%, não foi constatada a presença de fitonematoides de importância econômica na
região.
Os pesquisadores do setor de Fertilidade do Solo, Fitotecnia e
Fitossanidade do órgão, juntamente com os técnicos da Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), identificaram durante a análise da safra
2009/10, que a disseminação dessa praga vem acontecendo desde 1991/92, quando
foram identificados os primeiros focos em Mato Grosso do Sul, Triangulo
Mineiro, Sudeste do Mato Grosso e em Chapadão do Céu (GO).
Nematóides são vermes de corpo cilíndrico que causam doenças. Eles vivem
no solo, na água e atacam humanos, animais e vegetais. São encontrados na água
salgada, água doce, no vinagre, em raízes, tubérculos, caule, folhas, sementes
e tecidos de diferentes tipos de animais. Alimentam-se de algas, fungos e
bactérias, também são parasitas de raízes de plantas, animais vertebrados e
invertebrados. Algumas espécies sobrevivem por meses ou anos no interior de
semente de plantas armazenadas. O combate convencional é feito por meio de
pesticidas tóxicos denominados nematicidas. Temperaturas muito baixas ou
excessivamente altas também podem afetá-los negativamente, ocasionando redução
na atividade e/ou morte.
Prejuízos
Esses parasitas são distribuídos em classes. Entre elas encontra-se a dos
Pratylenchus brachyurus, maior
causador de perdas econômicas na agricultura mundial, por causar significantes
reduções nas culturas de batata, soja, algodão e amendoim. Ele atua invadindo o
parênquima cortical das raízes e produz numerosas lesões necróticas nas plantas
sadias e impedem a absorção de água e agravam o problema da seca, afetando cerca
de 30% da produtividade. Como não absorve água, as plantas ficam menos
produtivas, pois não absorvem os nutrientes que ela transporta.
A responsável pelo laboratório da Fundação Chapadão,
engenheira agrícola Alexandra Botelho, informa que há dois anos estão sendo
realizados estudos de campo onde serão definidas estratégias de controle para o
Pratylenchus
sp. Observando a
presença de nematóides em uma safra, o produtor deve imediatamente tomar essas
providencias para que ela esteja em menor quantidade na próxima, já que a
aplicação de produtos químicos não erradica, pois eles também habitam no solo. “Como ainda não existe uma receita que o
extingue, então é necessário aprender a conviver com o problema, fazendo
rotações de culturas e uso de cultivares com baixo fator de reprodução”,
informa.
Plantio
Há poucos anos a ocorrência dos nematóides como os de cisto
era facilmente combatida com a rotação do milho com outras variedades
resistentes. O grande problema é que passaram a utilizá-las mais, como é o caso
da soja, por ser resistente e despertar grande interesse econômico. A solução é
o cultivo apenas de espécies resistentes ou o cultivo do milho de verão, pois quando
não se utilizava muito o milho de safrinha, não havia tanta infestação de
nematóides e muitas propriedades praticavam uma rotação natural com a soja. “Na
região de Chapadão, as noites costumam ser frias favorecendo a boa
produtividade do milho mesmo no verão”, informa o pesquisador da Embrapa
Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus.
Cultivares resistentes e tolerantes
O milho apresenta resistência genética ao nematóide de cisto, mas apesar
disso é considerado um bom hospedeiro para os nematóides em geral, assim como acontece
com o algodão. Como produtos químicos não erradicam esses parasitas porque eles
também habitam no solo, podemos dizer que prevenir é o melhor remédio!
O algodão já apresenta menor resistência. As espécies de nematóides mais comuns são nematóides
das galhas (Meloidogyne incognita), nematóides reniformes (Rotylenchulus
renififormis) e nematóides das lesões radiculares (Pratylenchus
brachyurus). Todos esses causam graves danos ao algodoeiro e a prevenção se
da na mesma forma para todas as espécies. Para Alexandra, o ideal é que
se faça uma correta amostragem da
propriedade, talhão por talhão, e envio dessas amostras a um laboratório de
diagnose para identificação dos gêneros presentes e dos níveis populacionais.
Depois disso, é preciso estabelecer as possíveis táticas de manejo, com o
objetivo de interromper o ciclo da praga, diminuindo a população, para que
fiquem abaixo dos níveis de danos.
Nematicidas
Os
danos causados a colheita do algodão são da ordem de US$ 100 bilhões, com redução
de 20% a 30% da produtividade. Em casos de cultivares menos suscetíveis, os
danos podem afetar até 50%. Atualmente o uso de nematicidas tem sido muito
comum no tratamento de variedades resistentes de nematóides. Os três
nematicidas recomendados e registrados para o controle do nematóide reiforme
são: aldicarbe, carbofurano e terbufós. A escolha desses varia de acordo com
as condições climáticas e de produção da lavoura que interferem na solubilidade
do produto. Porem, esses produtos sempre usados em grandes quantidades,
possibilitam uma maior colheita de algodão, mas não acabam com os nematóides e em
algumas vezes são constatados uma maior quantidade da praga em relação ao que
se tinha anterior ao uso do nematicida.
Com a volta da rotação estima-se que a produtividade aumente,
equiparando-se ao que era encontrado há alguns anos. No entanto, é importante
que os agricultores estejam atentos ao tipo de nematóide que está ocorrendo na
sua propriedade para que não fique suscetível a outros tipos de hospedeiros que
podem causar danos ainda maiores a lavoura.
Rotação de cultura
Em áreas infestadas com M.
incognita, sugere-se a rotação com amendoim (Arachis hypogeae),
crotalárias (exceto Crotalaria juncea) ou mucunas. As cultivares de soja
BR-8, Cobb, IAC-8 e Tropical são resistentes a M. incógnita, porém a
maioria dos cultivares são vulneráveis a esse nematóide. Para o controle do
nematóide reniforme as melhores opções são arroz (Oryza sativa), milho (Zea
mays), sorgo (Sorghum bicolor), milheto (Pennisetum glaucum),
cana-de-açúcar (Saccharum spp.), trigo (Triticum aestivum), capim
Rodes (Chloris gayana), feijão-mungo (Phaseoulus aureus),
mostarda (Brassica nigra), amendoim (Arachis hypogeae) e algumas
espécies de crotalárias (Crotalaria breviflora, C. lanceolata e C.
mucronata).
Alternar a cultura de algodão
com a de milho é uma boa opção para diminuir a população do nematóide
reniforme, pois evita a reprodução em ervas daninhas e impede a disseminação
pelo vento ou enxurradas. Em contrapartida plantas como soja e fumo são
altamente suscetíveis.
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