quinta-feira, 17 de março de 2011

Ameaça nematóide: Prevenir é o melhor remédio


Os nematóides voltam a atacar as lavouras de todo o cerrado brasileiro. As possíveis perdas de produtividade provocadas impulsionaram o novo estudo da Fundação Chapadão

Por Lilian Almeida
A Fundação Chapadão do Sul, em levantamento quali-quantitativo realizado no período de outubro de 2009 a maio desse ano, aponta que a incidência de nematóides do tipo Pratilenchus nas regiões de Chapadão do Sul (MS) tem aumentado nos últimos três anos, como apontou 92% das 750 amostras de plantas estudadas. Dessas, 59% estavam infestadas com Pratylenchus brachyurus, 24% havia Pratylechus brachyurus e Heterodera glycines, 4% havia apenas Heterodera glycines, outros 4% havia Pratylenchus brachyurus e Meloidogyne sp., 1% das amostras havia Pratylechus brachyurus, Heterodera glycines e Meloidogyne sp. e em 8%, não foi constatada a presença de fitonematoides de importância econômica na região.
Os pesquisadores do setor de Fertilidade do Solo, Fitotecnia e Fitossanidade do órgão, juntamente com os técnicos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), identificaram durante a análise da safra 2009/10, que a disseminação dessa praga vem acontecendo desde 1991/92, quando foram identificados os primeiros focos em Mato Grosso do Sul, Triangulo Mineiro, Sudeste do Mato Grosso e em Chapadão do Céu (GO).
Nematóides são vermes de corpo cilíndrico que causam doenças. Eles vivem no solo, na água e atacam humanos, animais e vegetais. São encontrados na água salgada, água doce, no vinagre, em raízes, tubérculos, caule, folhas, sementes e tecidos de diferentes tipos de animais. Alimentam-se de algas, fungos e bactérias, também são parasitas de raízes de plantas, animais vertebrados e invertebrados. Algumas espécies sobrevivem por meses ou anos no interior de semente de plantas armazenadas. O combate convencional é feito por meio de pesticidas tóxicos denominados nematicidas. Temperaturas muito baixas ou excessivamente altas também podem afetá-los negativamente, ocasionando redução na atividade e/ou morte.
Prejuízos
Esses parasitas são distribuídos em classes. Entre elas encontra-se a dos Pratylenchus brachyurus, maior causador de perdas econômicas na agricultura mundial, por causar significantes reduções nas culturas de batata, soja, algodão e amendoim. Ele atua invadindo o parênquima cortical das raízes e produz numerosas lesões necróticas nas plantas sadias e impedem a absorção de água e agravam o problema da seca, afetando cerca de 30% da produtividade. Como não absorve água, as plantas ficam menos produtivas, pois não absorvem os nutrientes que ela transporta.
A responsável pelo laboratório da Fundação Chapadão, engenheira agrícola Alexandra Botelho, informa que há dois anos estão sendo realizados estudos de campo onde serão definidas estratégias de controle para o Pratylenchus sp. Observando a presença de nematóides em uma safra, o produtor deve imediatamente tomar essas providencias para que ela esteja em menor quantidade na próxima, já que a aplicação de produtos químicos não erradica, pois eles também habitam no solo. “Como ainda não existe uma receita que o extingue, então é necessário aprender a conviver com o problema, fazendo rotações de culturas e uso de cultivares com baixo fator de reprodução”, informa.
Plantio
Há poucos anos a ocorrência dos nematóides como os de cisto era facilmente combatida com a rotação do milho com outras variedades resistentes. O grande problema é que passaram a utilizá-las mais, como é o caso da soja, por ser resistente e despertar grande interesse econômico. A solução é o cultivo apenas de espécies resistentes ou o cultivo do milho de verão, pois quando não se utilizava muito o milho de safrinha, não havia tanta infestação de nematóides e muitas propriedades praticavam uma rotação natural com a soja. “Na região de Chapadão, as noites costumam ser frias favorecendo a boa produtividade do milho mesmo no verão”, informa o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus.
Cultivares resistentes e tolerantes
O milho apresenta resistência genética ao nematóide de cisto, mas apesar disso é considerado um bom hospedeiro para os nematóides em geral, assim como acontece com o algodão. Como produtos químicos não erradicam esses parasitas porque eles também habitam no solo, podemos dizer que prevenir é o melhor remédio!
                O algodão já apresenta menor resistência.  As espécies de nematóides mais comuns são nematóides das galhas (Meloidogyne incognita), nematóides reniformes (Rotylenchulus renififormis) e nematóides das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). Todos esses causam graves danos ao algodoeiro e a prevenção se da na mesma forma para todas as espécies. Para Alexandra, o ideal é que se faça uma correta amostragem da propriedade, talhão por talhão, e envio dessas amostras a um laboratório de diagnose para identificação dos gêneros presentes e dos níveis populacionais. Depois disso, é preciso estabelecer as possíveis táticas de manejo, com o objetivo de interromper o ciclo da praga, diminuindo a população, para que fiquem abaixo dos níveis de danos.
Nematicidas
                Os danos causados a colheita do algodão são da ordem de US$ 100 bilhões, com redução de 20% a 30% da produtividade. Em casos de cultivares menos suscetíveis, os danos podem afetar até 50%. Atualmente o uso de nematicidas tem sido muito comum no tratamento de variedades resistentes de nematóides. Os três nematicidas recomendados e registrados para o controle do nematóide reiforme são: aldicarbe, carbofurano e terbufós. A escolha desses varia de acordo com as condições climáticas e de produção da lavoura que interferem na solubilidade do produto. Porem, esses produtos sempre usados em grandes quantidades, possibilitam uma maior colheita de algodão, mas não acabam com os nematóides e em algumas vezes são constatados uma maior quantidade da praga em relação ao que se tinha anterior ao uso do nematicida.
Com a volta da rotação estima-se que a produtividade aumente, equiparando-se ao que era encontrado há alguns anos. No entanto, é importante que os agricultores estejam atentos ao tipo de nematóide que está ocorrendo na sua propriedade para que não fique suscetível a outros tipos de hospedeiros que podem causar danos ainda maiores a lavoura.
                Rotação de cultura
                Em áreas infestadas com M. incognita, sugere-se a rotação com amendoim (Arachis hypogeae), crotalárias (exceto Crotalaria juncea) ou mucunas. As cultivares de soja BR-8, Cobb, IAC-8 e Tropical são resistentes a M. incógnita, porém a maioria dos cultivares são vulneráveis a esse nematóide. Para o controle do nematóide reniforme as melhores opções são arroz (Oryza sativa), milho (Zea mays), sorgo (Sorghum bicolor), milheto (Pennisetum glaucum), cana-de-açúcar (Saccharum spp.), trigo (Triticum aestivum), capim Rodes (Chloris gayana), feijão-mungo (Phaseoulus aureus), mostarda (Brassica nigra), amendoim (Arachis hypogeae) e algumas espécies de crotalárias (Crotalaria breviflora, C. lanceolata e C. mucronata).
                Alternar a cultura de algodão com a de milho é uma boa opção para diminuir a população do nematóide reniforme, pois evita a reprodução em ervas daninhas e impede a disseminação pelo vento ou enxurradas. Em contrapartida plantas como soja e fumo são altamente suscetíveis.

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Autor Lilian Schineider | Contato lischineider@hotmail.com - almeida.lilian@hotmail.com | @LiSchineider