quarta-feira, 16 de março de 2011

Madeira Predatória

Exploração de madeira: A preocupação ecológica é a principal arma contra a ilegalidade e destruição
Por Lilian Almeida
                O Brasil, devido à vasta biodiversidade de suas florestas, é um dos principais consumidores e fornecedores de madeira do mundo, ocupando a oitava posição no comércio internacional. Em menos de 50 anos, a maior floresta brasileira, a Amazônica, perdeu com a atividade madeireira predatória e ilegal 20% de toa sua cobertura, já a Mata Atlântica, só nos últimos dois anos, perdeu 20.867 hectares de floresta, dados do Inpe/MCT (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Segundo o Greenpeace 80% dessa produção, é destinada ao mercado interno. Desses, 20% é consumido só no Estado de São Paulo. Porém, os consumidores têm pouco ou nenhum conhecimento sobre a origem dessa madeira ou sobre as decorrências das explorações de alguns tipos específicos.
                Esse extrativismo desregrado de recursos naturais tem relação direta com a extinção de espécies da fauna e da flora, pois as florestas não conseguem recompor naturalmente na mesma velocidade. Após a devastação da Mata Atlântica, a Floresta Amazônica passou a ser a maior fonte de madeira para o mercado nacional e internacional. O seu desmatamento que responde por três quartos das emissões de gases de efeito estufa no Brasil tem como principal vetor a extração ilegal de madeira. Manter nossas florestas, no entanto, não é essencial apenas para a sustentação do setor madeireiro, mas também imprescindível para assegurar padrões mínimos de qualidade de vida. Se elas deixarem de existir, cada vez mais enfrentaremos problemas causados por mudanças climáticas, como inundações, poluição do ar, falta de água, dentre outros.
Soluções para o impasse
                Há alternativas que possibilitam o uso da floresta sem causar devastação. Uma delas é o manejo florestal – exploração planejada e controlada da mata nativa. Essa prática visa utilizar os recursos naturais partindo do princípio de sustentabilidade, ou seja, possibilita a recomposição da floresta de modo a viabilizá-la econômica, social e ambientalmente. Outra opção é preservar áreas nativas em forma de parques e reservas ambientais.
                Para que essas alternativas entrem em prática é preciso ações conjuntas do governo, sociedade civil e setor privado a fim de aplicar políticas mais severas que exijam tanto dos compradores quanto dos produtores, certificados que atestem a aplicação da sustentabilidade. Hoje, a conscientização ecológica visa não somente manter a qualidade e os custos da madeira, mas é um estímulo para a criação de certificados, pois são eles que indicam ao comprador atacadista ou varejista qual a origem do produto e se ele contribui para um melhor equilíbrio ambiental.
 Como exemplo, temos o SOF (Selo de Origem Florestal), certificado emitido pelo Sisprof (Sistema Integrado de Monitoramento e Controle dos Recursos e Produtos Florestais), órgão do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis), que fiscaliza o transporte, industrialização, beneficiamento, armazenamento e consumo de produtos e subprodutos madeireiros de origem nativa. Outra forma de identificação é a presença da sigla FSC (Forest Stewardship Council/Conselho de Manejo Florestal), que indica que o produto foi atestado pela entidade internacional e que sua extração foi feita de forma sustentável ou por reflorestamento.
Freio à devastação
                Nos últimos anos o desmatamento tem diminuído graças às ações do sistema brasileiro de monitoramento de florestas, mas o desmate ainda não foi solucionado. O Chatham House - Instituto Real de Assuntos Internacionais do Reino Unido - realizou em julho desse ano, estudos sobre os países detentores das maiores florestas tropicais e constatou que existem falhas na aplicação de sansões no comércio ilegal de madeira no Brasil. Apenas 2,5% das multas são recolhidas. O grande impasse encontrado é a multiplicação dos desmates em menor escala. Segundo o Greenpeace as madeireiras estão desde a década de 1980, abrindo estradas cada vez mais distantes, o que torna a fiscalização mais difícil de ser realizada. A abertura dessas estradas propicia a ocupação das áreas por agricultores e fazendeiros que por sua vez, também desmatam a região para criar pastos.
                Outro fator interligado é o alto custo. A indústria madeireira movimenta cerca de US$ 400 bilhões no mundo inteiro. As madeiras mais cobiçadas e com maior valor de mercado são as mais exploradas ilegalmente, pois madeira certificada é mais cara. Nas estradas clandestinas o processo segue da seguinte forma, a cada hectare é explorado uma ou duas árvores de valor, como o mogno, ipê e cedro – árvore centenária que não pode ser reposta –, essa extração se torna severa pelo fato de não sobrarem árvores produtoras de sementes dessas espécies na floresta.
são exportadas pelo Brasil e países da África, porém sua maioria sai de forma clandestina, pois madeira certificada é mais cara. No mercado internacional o problema da fiscalização é outro: a madeira chega com forma de produto final, transformada em móveis, cuja procedência da matéria-prima não pode ser identificada.
                Mesmo com os preços mais altos, quando o consumidor está bem informado, ele sabe dos benefícios que se tem em comprar um produto com certificado. Para os empresários do setor de construção, papel, móveis e outras indústrias compradoras de madeira, a floresta é importante fonte de matéria-prima e preservação dos seus negócios. Por isso é importante que os empresários optem também pelo uso de espécies alternativas a fim de preservar as florestas e evitar drásticas alterações climáticas no planeta, provenientes das emissões de gases de efeito estufa.
               

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Autor Lilian Schineider | Contato lischineider@hotmail.com - almeida.lilian@hotmail.com | @LiSchineider