quinta-feira, 17 de março de 2011

Silagem

CANA DE AÇÚCAR: A GRANDE ALIADA NA ESTAÇÃO SECA
De olho nas variações climáticas que ocorrem durante o ano, os produtores estão cada vez mais se apoiando nas técnicas de ensilamento. Com boa aceitação pelos animais, esse método além de barato preserva a cana em propriedades que enfrentam problemas na colheita ou incêndios acidentais das glebas.
A cana-de-açúcar é um alimento barato, nutricionalmente rico e de fácil cultivo de norte a sul do país. Com características peculiares, essa forrageira apresenta diferenças qualificadoras se comparada a outras também utilizadas para a confecção de silagens (suplementação volumosa que substitui o pasto), dessa forma sua ensilagem (processo de conservação de alimentos silados) conserva a qualidade da produção do gado de corte e leite o ano inteiro.
Quando destinada à silagem, a cana é cortada em partículas de um a três centímetros. Sem fermentação o processo necessita de tamanhos entre oito e doze milímetros. Esse material picado vai para o silo onde, sem a presença de ar, ocorre uma acidificação propiciando ao alimento uma conservação desejável, para que os animais possam consumi-la por mais tempo.
Por se tratar de uma planta de fácil cultivo, a cana-de-açúcar é para o produtor, o meio mais viável para alimentação do gado, tanto no período da seca, quanto no período chuvoso. Isso porque ela exige poucos tratos culturais. Sua fase de maturação coincide com o período da seca na maior parte do país, fase em que ela atua minimizando os efeitos da baixa produção de pastagens, pois apresenta excelente potencial energético para o consumo, cerca de 45 kg diários por animal.
Durante a entressafra o alimento se encontra em seu melhor nível nutricional, momento oportuno para o armazenamento. Nessa fase ela apresenta maior teor de açúcares (40% a 50% - base matéria seca). Porem, a produtividade do canavial pode ser afetada por adversidades como clima, solo, adubos, colheita, controle de pragas entre outras. Além disso, a cana-de-açúcar é um alimento desbalanceado, não sendo aconselhável seu exclusivo uso para a alimentação.
Ela apresenta baixos teores de proteína bruta e de alguns minerais como fósforo, enxofre, zinco e manganês. “Apesar de a cana ter um nível protéico menor que o milho, por exemplo, o nutricionista consegue corrigir isso. Quando formula a ração, ele sabe a porcentagem certa que o animal precisa receber de proteína, então ele corrige ou acrescenta algum produto”, informa a médica veterinária Dagmar Coutinho. Segundo ela, as silagens de milho e capim são as mais comuns, porém apresentam desvantagens produtivas. “A cana tem a vantagem de produzir mais matéria verde por área plantada que outras culturas”, informa.
As silagens mais comuns são as de milho e sorgo. As diferenças estão na característica de cada planta. O replantio da cana só é necessário a cada quatro ou cinco anos, ou seja, maximiza o uso da terra possibilitando um custo de produção relativamente mais baixo se comparado aos outros volumosos.
O grande limitante da silagem de cana de açúcar é a extensa atividade de leveduras e abundancia de carboidratos, floras específicas da cultura. Normalmente toda planta quando é cortada, inicia seu processo natural de acidificação. Esse é um processo de fermentação, que no caso da cana, possibilita uma grande produção de álcool. Porém, esse produto é volátil e evapora levando consigo parte do material silado. Outra desvantagem é que a produção de álcool deixa a silagem menos palatável. “Algumas vezes o animal refuga e essa seria a principal desvantagem e é aí que entra a importância do inoculante”, relata Dagmar.
Inoculantes são bactérias utilizadas para promover acidificação de forma benéfica, reduzindo o ph. No caso da silagem de cana-de-açúcar, a combinação do inoculante Lactobacillus buchineri e aditivos químicos (uréia, hidróxido de sódio, benzoato de sódio, sorbato de potássio, propionato de cálcio), possibilitam o controle dos ácidos propiônicos e acéticos, que influenciam na palatabilidade, digestão e conservação da forragem. “Eu já fiz silagem com outros inoculantes e não foi tão satisfatório”, informa o técnico em agrícola Sandro Potenciano, proprietário da Estância Potenciano (GO).
O inoculante específico garante a proteção contra ataque de fungos e leveduras após a abertura do silo para sua utilização – momento em que tem contato com oxigênio -, impedem a planta de se deteriorar durante a acidificação e mantém o valor nutritivo da silagem por até 6 meses, porem, não solucionam os problemas de manejo do silo. “É preciso estar atento ao tamanho do corte, ao manejo, a limpeza do silo, novas colônias, tudo é importante”, acrescenta a médica veterinária.
Para Dagmar Coutinho, a cana desponta como grande novidade na silagem por se ter uma grande produtividade no Brasil e os produtores estão vendo que ensilar é muito mais fácil que fazer o corte diário da cana. “Sem contar que a cana nessa época de chuva esta sujeita a raios, podendo queimar o canavial, abelha que da no cocho entre outras coisas que podem acontecer no momento que você corta a cana in natura”, diz.
A silagem racionaliza o manejo do canavial. Quando é feito o corte diário, não se tem uma época certa para adubar por igual, para tratar ou replantar. “Utilizando a silagem nós temos o corte feito em dois ou três dias, sem a mecanização não tem essa facilidade, então o canavial fica com broto de todo tamanho”, informa Potenciano. Outras desvantagens do corte diário se dão por conta da demanda diária de profissionais trabalhando no canavial e pelo fato da cana começar a fermentar no próprio cocho.
O custo da silagem de cana-de-açúcar, quando bem feita, sai mais barato do que de qualquer outro tipo de forrageira. O canavial proporciona rendimentos médios de massa verde superiores a 120 toneladas por hectare, já a plantação de milho que hoje é a mais utilizada, apresenta uma produção de até 55 toneladas por hectare. O período mínimo para replantio do canavial é de cinco anos. Quanto melhor tratado e manejado, mais duradouro ele vai ser.  Uma dica é, quando o produtor for comprar a cana, ele deve estar atento a qual tipo é mais adequado para a região em que será feito o plantio.  O recomendado é plantar uma variedade de cana-de-açúcar com maturação precoce, para alimentar os animais nos primeiros meses do período seco, e outra variedade de maturação média a tardia, para alimentar os animais do meio até o final do período.
Para uma boa confecção da silagem é preciso alguns cuidados como não deixá-la tombar para não inviabilizar a mecanização e atenção quanto ao tamanho do corte, quanto maior o teor de matéria seca da cultura, menor deve ser o tamanho médio das partículas. No caso da cana, por ser mais pesada, é preciso utilizar máquinas específicas para essa finalidade, motor com redução de velocidade. A lamina deve estar muito bem afiada e há necessidade de ter outra para reposição, permitindo que o processo não seja interrompido caso a lamina quebre.
Depois de cortada, a cana deve ser levada para o silo o mais rápido possível, pois a ensilagem não deve ultrapassar 4 dias de confecção, para que não haja perdas nutricionais. A aplicação do inoculante pode ser feita tanto durante o corte, com um equipamento acoplado à colheitadeira quanto no silo, utilizando a bomba costal. A vedação do silo deve ser feita com lonas novas e com dupla face. Em geral são necessárias algumas semanas até que todo o processo de fermentação da cana se estabilize dentro do silo e o material esteja realmente preservado para alimentar os animais.
Portanto, o segredo de ensilar está no planejamento antecipado, manejo adequado e utilização de um inoculante apropriado, representado uma alternativa de baixo custo para alimentação do rebanho. A produção eficiente de leite e carne está baseada numa adequada disponibilidade de forragem de boa qualidade ao longo do ano.

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Autor Lilian Schineider | Contato lischineider@hotmail.com - almeida.lilian@hotmail.com | @LiSchineider